Lá
ia ele, perambulando por aquela rua onde sua casa era localizada. Ele era um
jovem de estatura baixa e franzino. Naquele dia estava com a sua garrafa de
cachaça debaixo do braço, levando-a com grande satisfação, e no seu rosto
estava estampado o sorriso de um indivíduo deveras embriagado. Acabara de
esvaziar duas garrafas da bebida e agora estava prestes a esvaziar mais uma.
Andava cambaleando de um lado a outro, se batendo nas paredes das casas e nas
pessoas, cantarolando em harmonias sem nexo suas canções das quais, ninguém
nada entedia e até detestavam aquela voz chata e irritante. Em sua mente
continha apenas uma imagem. A imagem daquela que roubou o seu coração, a mulher
mais formosa e encantadora que ele já tinha visto, a beldade daquela rua, a
senhorita CH...
Pobre rapaz.
Tanto o que os seus pais fizeram para ajudá-lo, tanto o que eles haviam gasto
para ele ser alguém na vida e agora sua vida estava toda perdida, evaporando-se
completamente na cachaça.
Ele quase
nem sentia o dia passar. A cachaça não deixava! Mas, para ele, ajudava,
passando todo o seu tempo nas praças e nas calçadas das esquinas com aquele
bando de “pés-inchados”. E quando não tinham mais dinheiro, eles pediam uns
trocados para os pedestres e, assim, fazerem renascer novamente aquelas
garrafas tão desejadas.
Seguindo o
seu caminho na calçada, ele a viu. O coração dele pulsou forte, e ela, a
senhorita CH..., nem aí para ele. Ela iria se casar com o filho de um rico
empresário. Que angústia o rapaz sentia! Mas também, qual mulher queria um
cachaceiro? Sem dinheiro, sem futuro, mal vestido, João Ninguém. Ele tinha de
reconhecer: a realidade é dura para os desprivilegiados.
Ao passar
pela rua, a senhorita CH... atraia olhares de homens que assobiavam e
pronunciavam palavras de elogios baratos e cantadas mal cantadas, enquanto
aquele pobre rapaz com sua tristeza estampada no rosto, observava-a,
acompanhando-a com seu olhar embriagado, enquanto atravessava a rua olhando as
nádegas empinadas de um corpo esbelto.
De repente...
...Pan! Pan! Pan! Pum!
... Fora
atropelado.
Agora o
centro das atenções já não mais era a senhorita CH..., mas aquele indivíduo
embriagado que acabara de perder a vida ao ter sido atropelado naquele dia
azarado e ensolarado.
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* O
presente conto faz parte do livro Histórias
aceitas por ninguém, escrito por Allan de Oliveira. E caso o leitor tenha interesse
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