CRIME E CASTIGO (Resumo) – 1ª PARTE


http://fornodoceu.blogspot.com.br/2013/08/analise-do-livro-crime-e-castigo-de.html

Por: Allan de Oliveira.

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Raskólhnikov, um rapaz de boa aparência que andava aos trapos por causa das más condições financeiras. Morava em São Petersburgo na Rússia. Ele acabara de sair do quarto do pensionato em que morava. Tratava-se de um lugar localizado no térreo de um edifício com cinco andares. Ao sair, o jovem tinha de passar enfrente à cozinha que sempre se encontrava com a porta aberta e que a proprietária, Praskóvia Pávlovna, uma fofoqueira, observava a tudo que ocorria. Ele não queria encontrá-la: “(...) todos aqueles disparates a respeito do pagamento, aquelas ameaças e lamentações”. (DOSTOIÉVSKI, 2003. p. 9)

 

Na rua, Raskólhnikov encontrou vários bêbados que bebiam por serem miseráveis. Ele estava há dois dias sem se alimentar. Praskóvia Pávlovna cortara a sua refeição por causa do atraso no aluguel. O rapaz seguiu o seu caminho até um edifício com apartamentos que moravam trabalhadores, imigrantes, e prostitutas. Entrou sem ser visto, indo em direção ao 4º andar. Já conhecia o local. Lá encontrou alguns homens que estavam fazendo a mudança de moradores alemães. Seguiu em direção ao quarto de uma senhora já idosa, Alíona Ivânovna, uma agiota local. O jovem levara um relógio para empenhar e a velha aproveitou para cobrar um empréstimo anterior e negociaram a situação, ao passo que a senhora fora pagar o dinheiro noutro cômodo para emprestá-lo, enquanto o rapaz a observava, pretendendo fazer alguma ação, futuramente. Ao voltar, a senhora lhe entregou o dinheiro e ele saiu indo a uma taverna. Tratava-se de uma taverna humilde, frequentada por bêbados pobres.

 

“A atmosfera era tão sufocante que não se podia estar ali, e o ar estava a tal ponto impregnado do cheiro de aguardente que poderia quase dizer-se que, só de respirar aquele ambiente, uma pessoa era capaz de ficar embriagada”. (DOSTOIÉVSKI, 2003. p. 17)

 

Um funcionário público chamado Marmieládov que estava na taverna já embriagado, após um tempo puxou conversa com Raskólhnikov, elogiando-o, dizendo que um tal Liebiesiátnikov batera em sua esposa, Ekatierina Ivânovna, uma viúva de um oficial de infantaria que morrera em batalha, mãe de dois filhos. Marmieládov se casara com ela por piedade por ela estar na miséria, além de ser uma mulher com a saúde precária. O funcionário público tinha uma filha adolescente, Sônietchka (Sônia), que se prostituta a pedido da madrasta por causa da má situação em que viviam, bem como sugestões da proprietária, Amália Ivânovna, e de uma moradora. Assim, Sônietchka passou a morar em outro local, um quarto de um apartamento de uma família. Por conta da embriaguez de Marmieládov e das suas desgraças, o taverneiro e seus funcionários riam dele. Raskólhnikov, sendo do tipo que não gostava muito de conversas, naquele momento se interessou no assunto por estar sentindo pena do outro. O funcionário comentara também que vendera algumas roupas da esposa para beber e se sentia um inútil por ter feito isso. Dissera que perdera o emprego por mudança de funcionários e esse fora o motivo dele ter se entregue à bebida. Marmieládev pediu ao outro que o levasse a sua casa.

 

Ao chegarem, Raskólhnikov e o funcionário desempregado subiram as escadas do prédio e foram a um apartamento decrépito. Ouviram vozes próximas de pessoas que jogavam baralho. A esposa de Marmieládev espanta-se ao ver Raskólhnikov, perguntando ao marido pelo dinheiro e puxando-o de imediato para dentro do apartamento por eles estarem no corredor. Ela mandou Raskólhnikov ir embora, “armando um barraco” naquelas horas da madrugada, acordando os vizinhos que saíam das suas moradas e a própria proprietária. Essa os repreendera, ameaçando-os de despejá-los. Raskólhnikov saiu correndo dali e sem ninguém notar, ele deixou algumas moedas na janela. Fizera aquilo por sentir pena daquela família. Logo mais na rua, ele pensou em voltar para pegar o dinheiro de volta por estar numa situação financeira das piores, mas percebera que aquelas pessoas precisavam mais daqueles trocados do que ele mesmo.

 

No dia seguinte, Raskólhnikov acordou por volta das 10 horas. Estava mal-humorado. Seu quarto não passava de um cubículo que quase não continham móveis: “vivia como uma tartaruga numa concha”. (DOSTOIÉVSKI, 2003. p. 31)

 

Havia uma criada no pensionato chamada Nastássia que servia as refeições e naquela manhã, a moça fora acordá-lo para servir chá com pena por ele não estar fazendo as refeições regularmente, pois fazia duas semanas que não o serviam. Raskólhnikov pediu a ela para comprar um pão e uma salsicha, mas a moça lhe ofereceu uma sopa do dia anterior. Depois de lhe trazer a sopa, Nastássia lhe dissera que sua patroa pretendia ir dar queixa na polícia por ele estar lhe devendo o dinheiro do aluguel ou tampouco desocupava o quarto. Nastássia lhe dissera também que chegara uma carta da sua mãe, Pulkhiéria Raskólhnikova.

 

Na carta da mãe do rapaz era dito que ela e sua filha Dúnietchka (Dúnia) estavam com saudades dele e preocupada por fazer em torno de quatro meses que não lhe enviava dinheiro por causa de uma dívida, dizendo também sentir muito o fato dele ter deixado a universidade e querer construir uma vida em outro lugar. Comentara também que Dúnia estava na casa de um senhor, Svidrigáilov, que a maltratava, dera “encima” dela e sua esposa, Marfa Pietrovna, interpretara o contrário, batendo depois na moça e espalhando o boato pela redondeza. A vizinhança ao ter notícia disso untara a porta da casa da mãe dele com piche, um costume muito comum na época, usado para difamar uma moça como prostituta. Com isso, elas haviam mudado de localidade por causa da pressão das pessoas. Depois de um tempo o senhor Svidrigáilov confessara tudo à esposa e ela foi-lhes pedir perdão, além de reverter a situação perante a vizinhança. Além disso, Dúnia estava noiva de um conselheiro da corte, Piotr Pietróvich Lújin, parente afastado de Marfa Pietrovna em que essa, para apagar os seus erros, fora quem arranjou esse casamento para a moça. Era dito também na carta que ela e a filha iriam visitá-lo em companhia de Lújin que viajaria a São Peterburgo a negócios a fim de inaugurar um escritório de advocacia e Raskólhnikov poderia trabalhar no escritório.

 

Após ter lido a carta, Raskólhnikov não gostou da ideia da irmã se casar. Ele sabia que o interesse de Dúnia no casamento era, somente, pelo fato do futuro esposo ser financeiramente bem-sucedido. Para esfriar a mente, o rapaz fora dar uma volta, indo em direção a uma praça. Lá ele viu uma adolescente embriagada que estava cambaleando e que se sentou num dos bancos da praça, bem como um homem, Svidrigáilov, que a seguia. Ao reconhecê-lo, Raskólhnikov passou a sentir muita raiva, mandando-o se retirar dali. Não obedecendo, Raskólhnikov partira para cima dele para espancá-lo, porém fora detido por um policial que por ali passava. O rapaz contou o caso ao policial enquanto esse tentava acordar a moça por ela ter cochilado no banco em que ela sentara. Raskólhnikov dera dinheiro ao policial para ele chamar uma carruagem e levá-la para casa. A moça se levantara, saindo cambaleando, enquanto Svidrigáilov a seguia pelo outro lado da praça. O policial levou o dinheiro de Raskólhnikov, seguindo aqueles que se retiravam. O jovem procurou se lembrar para onde iria e o que faria. Lembrou de que iria à casa de um antigo colega de universidade, Razumíkhin, por estar precisando de dinheiro.

 

“Era curioso que Raskólhnikov, quando andava na universidade, quase não tinha aí nenhum amigo; afastava-se de todos, não se dava com ninguém e não lhe agradava que eles o visitassem. Aliás, não tardou também que eles lhe voltassem as costas. Não tomava parte em coisa nenhuma, nem nas reuniões gerais, nem nas discussões, nem nos recreios. Estudava com afinco, sem ter pena de si mesmo, e por isso o respeitavam, mas não lhe tinham amizade. Era muito pobre, extremamente orgulhoso e nada comunicativo; parecia que escondia qualquer mistério. Na verdade, parecia que encarava alguns dos seus condiscípulos como se fossem crianças, por sobre o ombro, como se  estivesse muito acima de todos eles, tanto pela inteligência como pelo saber e pelas ideias, e considerasse as suas convicções e interesses como algo de inferior”. (DOSTOIÉVSKI, 2003. p. 52)

 

“Havia já quatro meses que Raskólhnikov não o visitava, e Razumíkhin, por seu lado, ignorava onde ele morava. Uma vez, havia dois meses, encontraram-se na rua, mas Raskólhnikov voltara-lhe as costas, passando para o outro passeio para que não o visse. E Razumíkhin, embora o tivesse visto muito bem, passou não incomodar o amigo”. (DOSTOIÉVSKI, 2003. p. 53)

 

Raskólhnikov estava em dúvida se iria visitá-lo. Ainda na praça, ele seguiu para uma área campestre da cidade. No caminho parou numa espécie de taverna para comer um pastel e tomar uma aguardente. Mas, sentindo sono, ao sair da taverna, acabou adormecendo numa grama. Sonhara com a sua infância, e com cristãos que ao saírem duma taverna passara a maltratar uma égua até a morte. Ao acordar, estava banhado de suor e horrorizado com o sonho. Estava com febre. Dirigiu-se ao Mercado do Feno e encontrou a irmã de Alíona Ivânovna, uma jovem de 35 anos chamada Lisavieta Ivânovna que conversava com um casal de vendedores e esses marcaram para ela passar lá no dia seguinte por volta das 8 da noite para resolver um assunto importante. Raskólhnikov ao ter ouvido parte da conversa:

 

“Raskólhnikov já se tinha retirado e não escutou mais. Caminhava devagar, sem chamar a atenção, esforçando-se por não perder uma palavra. O seu primeiro assombro pouco a pouco foi-se transformando em espanto, e um calafrio percorreu a espinha. De repente, adquirira uma informação certa; de um modo súbito e totalmente inesperado, soubera que no dia seguinte, às oito em ponto da noite, a irmã mais nova, e única pessoa que vivia com ela, não devia estar em casa e, portanto, às oito em ponto da noite a velha ficaria em casa sozinha”. (DOSTOIÉVSKI, 2003. p. 63)

 

O assunto que foi dito a Lisavieta era que uma mulher que empobrecera estava vendendo uns objetos femininos.

 

Raskólhnikov levou um anel de ouro, presente de Dúnia, para ser empenhado com a usurária, depois entrou numa taverna e bebeu chá. Lá encontrou um oficial e um estudante em outra mesa que comentavam sobre Alíona Ivânova sobre o fato de ela ser endinheirada. Ao se retirar da taverna, ele seguiu para sua casa, sendo acordado no dia seguinte por Nastássia que lhe trouxera pão e chá.

 

Às duas da tarde, Nastássia trouxe para Raskólhnikov um resto de uma sopa e o rapaz se alimentou muito pouco. Estava doente. Queria apenas descansar. Após ter descansado um pouco ele ficou imaginando uma forma de como assassinaria a usurária e pensou na machadinha da cozinha do pensionato. Costurou o seu casaco, o único que possuía, para ser escondida a machadinha e fez um embrulho com um pedaço de madeira.

 

“Pouco a pouco chegou a conclusões tão variadas como curiosas. A seu ver, o motivo principal residia não tanto na impossibilidade natural de ocultar o crime, como no próprio criminoso; todos os criminosos, sejam eles quais forem, experimentam no momento de cometer o seu crime uma espécie de enfraquecimento da vontade e do raciocínio, estado esse que vem depois a ser substituído por um atordoamento extraordinário e pueril, precisamente no momento em que mais necessárias lhe seriam a razão e a prudência. Esse eclipse do raciocínio, esse desfalecimento da vontade, segundo Raskólhnikov, apoderava-se do homem à maneira de uma doença, desenvolvendo-se progressivamente e alcançado o seu máximo de intensidade momentos antes do cometimento do crime: persistia durante a execução deste último e algum tempo depois, conforme os indivíduos, acabando depois por desaparecer como qualquer outra doença. O problema estava em saber se é sempre acompanhado de um certo gênero de doença; mas isso era uma questões que ele não se sentia capaz de resolver”. (DOSTOIÉVSKI, 2003. p. 71 e seg.)

 

Saiu à rua com a machadinha escondida, fazendo o possível para não ser notado por ninguém por onde passasse. Seu coração palpitava com força. Entrou no apartamento da velha e lhe disse que estava com um penhor. Mostrou-lhe uma cigarrilha de prata e a senhora o fora ver no claro. Percebendo que o outro estava nervoso ela estava desconfiada ao passo que o outro lhe dissera estar doente. Quando a velha deu um vacilo, ele deferiu três golpes com a machadinha até matá-la. Revistou o corpo à procura de dinheiro e o apartamento da morta. Feito isso, encontrou um porta-moedas no quarto, colocando-o no bolso. Encontrou um cofre com alguns objetos debaixo da cama e os guardou no bolso. Nesse ínterim, Lisavieta aparecera. Ao ver a irmã morta, entrou em estado de choque. Raskólhnikov, por não ter outra opção teve de matá-la também.

 

“O medo apoderava-se dele cada vez com mais força, sobretudo depois deste segundo homicídio, completamente inesperado.

 

Estava ansioso por ver-se longe dali o mais depressa possível”. (DOSTOIÉVSKI, 2003. p. 81)

 

De certo modo, Raskólhnikov mostrou-se ter-se arrependido. Lavou as mãos ensanguentadas e a machadinha num balde que havia na cozinha. Ainda preocupado, trancou a porta do apartamento. Depois ouviu chamarem do lado de fora. Mas saíram. Permaneceu a escutar o barulho que ocorria lá fora. O visitante que chamara, retornou com outro. Eles tocavam a campainha e chamaram várias vezes.

 

“- Mas estarão elas dormindo ou tê-las-iam morto? Malditas! – exclamou, como no fundo de um poço. – Eh, Alíona Ivânovna, velha bruxa! Lisavieta Ivânovna, beldade sem-par! Abram! Mas vocês estão dormindo, malditas?

 

E, furioso, pôs-se outra vez a puxar pela campainha, dez vezes seguidas. Não havia dúvida de que era algum homem com autoridade e familiar naquela casa.

 

“-Bem. Que há de fazer? Temos de bater em retirada! Ah... Ah! E eu que contava já co  o dinheiro! – exclamou o rapaz.

 

- É claro que temos de nos ir embora; mas então para que marcou ela uma hora? Foi ela mesma, a velha bruxa, que marcou esta hora. E da minha casa até aqui ainda é uma estirada. Também não percebo aonde teria ela ido! Todo o ano metida em casa, o diabo da velha, a resmungar e a dizer que lhe doem os pés, e de repente some e vai para a paródia!

 

“- Espere! – exclamou o rapaz de repente. – Olhe, não vê como a porta cede quanto é sacudida?

 

- E então?

 

- Isso quer dizer que não têm a chave posta e apenas o fecho corrido! Não sente ranger o fecho? E para ter o fecho corrido é preciso estar em casa, compreende? Donde se conclui que estão em casa mas não querem mais abrir”. (DOSTOIÉVSKI, 2003. p. 83)

 

Continuaram a tocar a campainha forçando a porta e olharam pelo buraco da fechadura. Mas, a chave impedia a visão. Enquanto isso, Raskólhnikov estava com a machadinha em riste, pronto para atacá-los quando entrassem. Desistiram e se foram. Nesse momento, Raskólhnikov aproveitou para fugir, deixando fechada a porta do apartamento. Ao descer as escadas percebeu que havia um alvoroço no andar de baixo. Era preciso se esconder em algum lugar. Tratava-se de uma discussão entre os pintores do apartamento desocupado. Após isso, os homens retornaram mais uma vez e Raskólhnikov:

 

“Seja! Se me apanham, está tudo perdido; se me deixam passar tudo está perdido também; hão de lembrar-se de mim”. (DOSTOIÉVSKI, 2003. p. 85)

 

Viu o apartamento desocupado e entrou para se esconder. Era o que antes estavam os pintores. Os homens passaram por ali e ele aproveitou para “dar o fora”, seguindo para o pensionato onde morava. Estava apavorado. Colocou a machadinha no lugar e se trancou em seu quarto.


(continua)

 

Crime e Castigo (Resumo) – Parte 2: https://bit.ly/3nGXNe2

 

Crime e Castigo (Resumo) – Parte 3: https://bit.ly/3um8R3V

 

Crime e Castigo (Resumo) – Parte 4: https://bit.ly/3yjKIw5

 

Crime e Castigo (Resumo) – Parte 5: https://bit.ly/3P4zJxv

 

 

REFERÊNCIA:

 

DOSTOIÉVSKI. Crime e Castigo. São Paulo. Nova Cultural. Suzano. 2003.

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Escritor, pesquisador, blogueiro, e Youtuber que visa através deste blog a circulação de textos próprios, bem como o de pessoas amigas, no intuito de incentivar as artes que há dentro de cada um de nós, e também a divulgação de culturas em geral. Contato: contatoallandeoliveira@gmail.com

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