A NELSON RODRIGUES

“O casamento já é indissolúvel na véspera”.

Como pontualidade é questão de ansiedade, ele logo se via chupando um cigarro atrás do outro: “É engraçado. As pessoas dizem que fumam para relaxar, se o que realmente acontece em minha opinião, é que todo o corpo cai e eis o relaxamento”.

Avistou uns cabelos surgindo por trás de uma árvore, mas não era o dela. O céu amarelado previa o crepúsculo como um moribundo, e é só o que presta nessa merda de “Cajú”.

- Que horas tem? – perguntou ela a uma transeunte que respondeu: 17:38h.

Novos relacionamentos sempre trazem velhos hábitos, por isso, nunca se evolui com eles.

Um ansioso horizonte brincava com ele, que se via esmagado por não está do outro lado da cidade enchendo a cara. Mas, não. Ele não dá o troco, até devolve o dinheiro a mais no troco, por isso que eu lhe chamo de “inglesinhodacabeçachata”.

As luzes dos postes se acenderam e ele quis sair. Um estalo projetou-lhe na mente imagens sobre um novo curta que se resumia no seguinte: A primeira tomada seria um relógio marcando 23:59h. Um zoom abre devagar toda a cena na qual se via debaixo do braço de um homem, uma mulher com a cara de choro. E assim que marca meia noite, toda a tela se apaga e só se escuta tapas e gritos da mulher. Ele ainda não tinha título. Pensava no tal “dia das mulheres”, mas, infelizmente, não lembrava a data.

Sorriu. Um sorriso semiconcluído. É uma das melhores sensações de um semi-artista. Fumou um “fino” e a angústia dobrou. Virou uma “dose” e relaxou: “Cachaça é massa. É um diazepan misturado com felicidade”.

Observou as beldades intocáveis de Aracaju. Coisinhas ocas que se esticam por qualquer buzina.

Então surge ela. Uma Atenas nos seus olhos. Longos cabelos cacheados que resistiam aos ventos marítimos, os quais como reverência, pareciam dizer: “São tão lindos. Não somos dignos de tocá-los em sua perfeição”.

Ombros fortes. Toda ela, forte. Na mais intelectual expressão da palavra.

O seu cheiro, mesmo de longe, enchia-lhe de alegria os pulmões oprimidos por essa tristeza aracajuana. E com passos delicadamente firmes, chegou até ele, beijou sua testa, deu um abraço semi-esperançoso e disse:

- Só vim aqui para dizer que vou a uma festinha ali. Tá?

A alcoólatra Maysa veio-lhe à mente. Nada disse. Apenas a olhou e deu-lhe um soco bem no meio do nariz e sentiu um imenso prazer em vê seu sangue contorna-lhe a boca, seguindo do queixo, enquanto ela se levanta do chão para enfim dá-se carinhos necessários pelo resto da noite!

Por; Antônio (Doris)
in: Doris “A Nelson Rodriguez”.


Literatura TV

Escritor, pesquisador, blogueiro, e Youtuber que visa através deste blog a circulação de textos próprios, bem como o de pessoas amigas, no intuito de incentivar as artes que há dentro de cada um de nós, e também a divulgação de culturas em geral. Contato: contatoallandeoliveira@gmail.com

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