ATRAVESSANDO A RUA

Lá ia ele, perambulando por aquela rua onde sua casa era localizada. Ele era um jovem de estatura baixa e franzino. Naquele dia ele estava segurando com muito amor a sua garrafa de cachaça debaixo do braço, e no seu rosto estava estampado o sorriso de um indivíduo deveras embriagado. Acabara de esvaziar duas garrafas da bebida e agora estava prestes a esvaziar mais uma.

Andava cambaleando de um lado a outro, se batendo nas paredes das casas e nas pessoas, cantarolando em harmonias sem nexo, suas canções das quais, ninguém nada entedia e odiavam aquela voz chata e irritante.

Em sua mente continha apenas uma imagem. A imagem daquela que roubou o seu coração, a mulher mais formosa e encantadora que já tinha visto, a beldade daquela rua, a senhorita CH...

Pobre rapaz. Tanto que seus pais fizeram para ajudá-lo, tanto o que eles haviam gasto para ele ser alguém na vida e agora sua vida estava toda perdida, evaporando-se completamente na cachaça.

Ele quase nem sentia o dia passar, a cachaça não deixava, mas para ele ajudava, passando todo seu tempo nas praças e nas calçadas das esquinas, com aquele bando de pés-inchados.

Quando não havia mais dinheiro, eles pediam uns trocados para as pessoas que passavam por eles, e faziam renascer outra vez aquelas garrafas tão desejadas.

Seguindo o seu caminho na calçada, ele a viu. Seu coração pulsou forte, e ela, a senhorita CH..., nem aí para ele. Ela iria se casar com o filho de um rico empresário. Que angústia o rapaz sentia. Mas também, qual mulher queria um cachaceiro? Sem dinheiro, sem futuro, mal vestido, João Ninguém. Ele tinha de reconhecer, pois a realidade é dura para os desprivilegiados.   
            
Ao passar pela rua, a senhorita CH... atraia todos os olhares dos homens, que assobiavam e pronunciavam suas palavras de elogios baratos e cantadas mal cantadas, enquanto aquele pobre rapaz, com sua tristeza estampada no rosto, observava-a, acompanhando-a com seu olhar embriagado, enquanto ele atravessava a rua, olhando as nádegas empinadas de um corpo esbelto.

De repente...

...Pan! Pan! Pan! Pum. Fora atropelado.

Agora, o centro das atenções já não mais era a senhorita CH... e sim aquele indivíduo embriagado que acabara de perder a vida, atropelado ao atravessar aquela rua, naquele dia azarado e ensolarado.    

Por: Allan Cara de Pão.
              
Literatura TV

Escritor, pesquisador, blogueiro, e Youtuber que visa através deste blog a circulação de textos próprios, bem como o de pessoas amigas, no intuito de incentivar as artes que há dentro de cada um de nós, e também a divulgação de culturas em geral. Contato: contatoallandeoliveira@gmail.com

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