O PESADELO AINDA NÃO ACABOU¹



Recentemente tive um sonho. Na verdade um grande pesadelo. 
Tudo começou quando eu encontrava-me na sala de jantar da casa onde morava, a qual eu havia nascido e crescido, estando presentes além de mim naquele momento, minha esposa com seu filho de um ano de idade nos braços, e minha tia, já idosa, a qual me criara e passara a maior parte do tempo comigo. De repente, uma luz cristalina redonda com meio metro de espessura, e meio de largura com o fundo escuro, surgiu no meio da sala naquela noite, sem explicação alguma. Todos nós ficamos pasmados com um acontecimento como aquele que tarda em acontecer. Para completar ainda mais o espetáculo, uma música mórbida dava para ser ouvida na lentidão de uma noite provida de ocultismos. 
Minha esposa tomada por certo fascínio mórbido, se aproximou da luz, em ares de contentamento, e desejou entrar naquela iluminação demoníaca. Consequentemente, seu filho começou a executar choros berrantes. Apavorado como eu estava e com medo de perdê-la, segui em seu encalço.
Passado alguns segundos, lamuriei-me, ao notar que nós havíamos sido tele-transportados à outra dimensão, uma dimensão paralela a esta. Digo isto porque ao chegar, notei que eu me encontrava na mesma casa, mas esta possuía um aspecto diferente e repudiante. 
A casa se encontrava mais envelhecida, suas paredes estavam sebosas, o teto parecia querer romper-se encima de mim, além de haver insetos das mais variadas espécies que infestavam aos poucos aquele lugar. Apavorado ainda mais, retirei-me dali e me dirigi para a rua, à procura da minha esposa. 
Logo mais na rua, olhei o céu. O seu azul escuro da noite desaparecera, dando lugar a um imenso rubor. As pessoas ao meu redor não passavam de zumbis e monstros horríveis que se aproximavam lentamente com rugidos de fome. A morte automaticamente invadiu o meu pensamento, pensando que tudo estava perdido para mim. Dirigi meu olhar para baixo e vi caído ao chão da calçada um bastão de ferro. Sem pensar duas vezes, peguei-o.
As criaturas iam-se aproximando cada vez mais de mim. Bati com o bastão na cabeça de uma delas. Era incrível! Seu corpo dissolveu-se e automaticamente regenerou-se na forma original, e gritos agonizantes de dor saíam de dentro da criatura. Visto e tendo ouvido aquilo, meu coração acelerou-se em quilometragens de segundos, e o meu terror aumentou ainda mais. Saí a correr apavorado pela rua, e quando pensei está livre daqueles seres horríveis, nojentos, que exalavam um mal cheiro como o de cadáveres, a situação piorou. 
O chão se abrira, saindo da crosta terrestre, lavas que deixavam apenas pedaços de asfalto flutuando sobre o fogo líquido. 
As criaturas horripilantes pulavam enfileiradas nos pedaços de asfalto flutuantes, chegando cada vez mais próximas de mim. Eu não suportava mais aquele desespero. 
Pulei nos pedaços de asfalto que se encontravam à frente para tentar me afastar, e finalmente consegui chegar a uma margem.
Quase a salvo na margem da ilha, enquanto as criaturas tentavam vir a meu encontro, reencontrei minha esposa. Ela ao ter me visto, acenou com a mão. Fui ao seu encontro. 
Senti-me feliz ao vê-la e me senti um pouco mais calmo e confortável. Porém, ao aproximar-me dela para abraçá-la, o meu ser passou a entrar em estado de choque, e meu corpo tornou-se gélido. 
Uma metamorfose fora executada naquela doce criatura que estava em meus braços, mudando sua forma original para dar lugar à figura do próprio demônio. Dei um grito estrondoso. Finalmente acordei.

***

Eu estava de volta em minha cama, mas sentia-me ainda atordoado com aquele pesadelo. Um tanto desconfiado e para tomar minhas precauções, verifiquei minha casa de ponta a ponta, para ver se estava tudo bem por lá. Tudo estava em ordem. Assim sendo, segui até a janela para observar a rua. Tudo em ordem. Suspirei. Porém, eu percebia ao olhar para aquela miséria e violência tomando conta das ruas e a pensar nos meus problemas pessoais, tirei as conclusões de que o pesadelo ainda não havia acabado.  
                
Aracaju, 2006.

Por: Allan Cara de Pão.

Literatura TV

Escritor, pesquisador, blogueiro, e Youtuber que visa através deste blog a circulação de textos próprios, bem como o de pessoas amigas, no intuito de incentivar as artes que há dentro de cada um de nós, e também a divulgação de culturas em geral. Contato: contatoallandeoliveira@gmail.com

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