Ulisses resiste ao canto da sereia.
Mosaico romano (século III)
Por: Allan de Oliveira.
Após os gregos terem vencido a Guerra
de Troia através da sua grande arma, o Cavalo de Troia, que os fez assaltar,
saquear, e incendiar a cidade, bem como matar os homens e levar as mulheres e
as crianças como escravas.
Ulisses (Odisseu) resolve o quanto
antes retornar para sua casa em Ítaca. Mas, os deuses fazem com que os ventos e
as tempestades sejam violentos para que as frotas sejam desviadas e os diversos
navios acabam sendo afundados.
Agamêmnon cai numa cilada armada por
sua própria esposa, Clitemnestra, e pelo amante dela, Egísto, e o assassinam.
Ulisses sofre consequências do tempo
ruim embarcando na Trácia, ocorrendo uma batalha. Depois a sua frota segue pelo
cabo Maléia e ao avistar Ítaca, surge uma tempestade que os castiga por sete
dias, fazendo-os parar noutra dimensão, a Terra do Esquecimento ou Ilha dos
Lotógrafos, em que alguns dos homens de Ulisses ao comerem uma planta conhecida
por lótus faz com que eles se esqueçam das suas lembranças e de quem são. Mas,
Ulisses os puxa pelo braço e os coloca de volta na nau. Após saírem deste
lugar, a escuridão da noite interfere, bem como os deuses e eles acabem
embarcando na Ilha dos Ciclopes, monstros gigantes com um único olho na testa.
Ulisses e seus companheiros sobem uma
colina e encontram uma caverna a qual eles adentram ao avistarem alimentos e
rebanhos de cabras e carneiros. Os homens pretendem roubar o necessário e
partir, mas seu líder por ser um homem muito curioso, pretende ficar para saber
quem mora naquele lugar.
“Ulisses é o homem que não apenas deve
se lembrar, mas também é aquele que quer ver, conhecer, experimentar tudo o que
o mundo pode lhe oferecer, e até esse mundo subumano no qual foi atirado. A
curiosidade de Ulisses leva-o sempre mais além, o que desta vez traz o risco de
causar sua perda. Em todo caso, essa curiosidade vai provar a morte de vários
de seus companheiros”. (VERNANT, pgs. 102 e seg.)
Fonte da foto: http://mitologia-mythos.blogspot.com.br/2011/06/polifemo.html
O ciclope conhecido por Polifemo chega
à sua caverna e não percebe os seus hospedeiros. Ao vê-los, faz perguntas a
Ulisses e este outro o tentar enganar. Após isso, Polifemo devora dois
companheiros de Ulisses, enquanto os demais sentem extremo pavor e a entrada da
caverna havia sido fechada com uma rocha gigantesca pelo próprio ciclope.
No dia seguinte, Polifemo devora mais
quatro homens. Ele pergunta qual o nome de Ulisses e este lhe diz chamar
“Ninguém” (em grego “oútis”).
Nesta colocação, “oútis”, percebe-se
que há um trocadilho de acordo com a palavra “mêtis” que significa “astúcia”.
“É claro que, quando se fala de mêtis,
logo se pensa em Ulisses, que é, justamente, o herói da mêtis, da astúcia, da
capacidade de encontrar saídas para o inextricável, de mentir, tapear os
outros, contar-lhes lorotas e se sair melhor que eles”. (VERNANT, p. 104)
Ulisses dá vinho a Polifemo e este
embriagado, adormece. Nesse ínterim, os homens confeccionam uma estaca de
madeira com ponta em brasa e enfiam-na no olho do ciclope, cegando-o. Os homens
conseguem fugir assim que o monstro abre a entrada ao procurá-los.
Polifemo grita por socorro e sua voz
estridente é ouvida pelos outros ciclopes que estão pelos arredores. Estes
perguntam o que houve e ele diz que “Ninguém” o havia feito mal e eles ficam
sem entender.
“Nesse instante, Ulisses não resiste ao
prazer da jactância e da vaidade. Grita-lhe: “Ciclope, se te perguntarem quem
cegou teu olho, diz que foi Ulisses, filho de Laertes, Ulisses de Ítaca, o
saqueador de cidades, o vencedor de Troia, Ulisses dos mil truques”. (VERNANT, p. 106)
O Ciclope é filho de Posêidon, e ele
acaba amaldiçoando Ulisses. Ele diz a seu pai quem havia feito aquilo com ele e
pede vingança e para seu inimigo não voltar à Ítaca para que padeça dos maiores
sofrimentos. Posêidon ouve o filho e fará os seus desejos se realizarem.
Após deixarem a Ilha dos Ciclopes
Ulisses e seus homens chegam à Ilha de Éolo (o senhor dos ventos), a ilha
conhecida por Ilha de eóbios, um lugar isolado e cercado por penhascos. Éolo
entrega a Ulisses um odre (uma caixa) que guarda as fontes dos ventos e das
tempestades.
No percurso da viagem, a nau está
próxima de Ítaca. Ulisses adormece e os marinheiros curiosos abrem a caixa e os
ventos saem fazendo com que as ondas se tornem violentas e o navio faça o percurso
contrário, retornando à Ilha de Éolo.
Ao retornarem à Ilha do Senhor dos
Ventos, Ulisses pede novamente sua ajuda e este lhe nega, percebendo que os
deuses o haviam amaldiçoado.
A frota de Ulisses viaja mais outra vez
e acaba chegando à Ilha dos Lestrigões, gigantes devoradores de estrangeiros.
Encontram uma mulher gigante que os convida para conhecer seu pai, o rei, e ao
encontrá-lo, este acaba engolindo um dos homens. Todos correm apavorados e
seguem para os navios. Mas, os lestrigões vão ao encalço deles e acabam por
devorar vários homens.
Ulisses acaba partindo, somente, com um
navio e com poucos homens. Encontram a Ilha de Circe, repleta de animais
dóceis.
Circe é uma feiticeira, filha de Hélio, o deus do sol e de Perseís, filha de Oceano. Ela morava na Ilha de Aiaie, atual Monte Circeu na Itália.
Quando Circe vê os homens, ela lhes
oferece bebida e eles acabam se transformando em porcos.
Ulisses por achar estranha a demora dos
companheiros vai à procura deles. Andando pela floresta encontra o deus Hermes.
Este lhe fala sobre Circe, dizendo que ela é uma feiticeira e que transformou
os companheiros dele em porcos e que ela também fará o mesmo com ele. Mas, para
isso não acontecer a ele, Hermes lhe entrega um antídoto.
Quando Ulisses encontra Circe e ela se
oferece a bebida para também transformá-lo num animal, não há resultado por
causa do antídoto. Ulisses puxa a espada e parte para cima de Circe,
ameaçando-a, mandando-a desfazer o feitiço nos seus companheiros.
“Por que Circe os transformou em
porcos? Ela reserva um destino semelhante a todos os viajantes que atracam em
sua ilha. Por quê? Porque é uma solitária e tenta se cercar de seres vivos que
não possam ir embora. Diz com toda clareza que, transformando esses viajantes
em porcos ou em outros bichos, o que deseja é que eles se esqueçam do regresso
e do passado, é que se esqueçam de que são”. (VERNANT, pgs. 110 e seg.)
A feiticeira desfaz o feitiço nos
companheiros de Ulisses e eles dois passam a desfrutar do mesmo leito conjugal.
Após algum tempo, os companheiros de
Ulisses relembram do regresso e eles devem partir.
Circe dá algumas instruções, alertando
Ulisses a fazer um sacrifício de um carneiro quando chegar ao Hades, pois só
assim ele encontrará o espírito do sábio Tirésias.
(continua)
REFERÊNCIAS:
KURY, Mário da Gama. Dicionário de Mitologia Grega e Romana.
VERNANT, Jean-Pierre. O universo, os deuses, os homens. São Paulo. Editora Schwarcz, 2008.
MITOLOGIA GREGA PARTE 1: A origem do
universo:
MITOLOGIA GREGA PARTE 2: O nascimento
de Afrodite e o reinado de Khrónos:
MITOLOGIA GREGA PARTE 3: Guerra dos
Deuses:
MITOLOGIA GREGA PARTE 4: A cidade de
Mecona e a história de Prometeu:
MITOLOGIA GREGA PARTE 5: Pandora, a
primeira mulher do mundo:
MITOLOGIA GREGA PARTE 6: A Guerra de
Troia:
MITOLOGIA GREGA PARTE 8: A aventura de
Ulisses ou A Odisseia - Parte 2:
MITOLOGIA GREGA PARTE 9: A aventura de
Ulisses ou A Odisseia - Parte 3:
MITOLOGIA GREGA PARTE 10: A história de
Dionísio:
MITOLOGIA GREGA PARTE 11: A história e
a maldição de Édipo - Parte 1:
MITOLOGIA GREGA PARTE 12: A história e
a maldição de Édipo - Parte 2:
MITOLOGIA GREGA PARTE 13: A história e
a maldição de Édipo - Parte 3:
MITOLOGIA GREGA PARTE 14: A história de
Perseu: