MITOLOGIA GREGA VIII: A Aventura de Ulisses ou A Odisseia. Parte II


Tirésias de Johann Heinrich Füssli, c. 1780–85.

  

Por: Allan de Oliveira.

  

Após ter recebido instruções de Circe, Ulisses segue numa nau com seus companheiros até a entrada do Hades, lá encontra vários espíritos que estão a sofrer na eternidade da morte.

 

Ao encontrar o espírito do próprio Tirésias, Ulisses faz o sacrifício do carneiro e o sábio lhe diz o caminho que ele deverá seguir para chegar á Ítaca, e que um dia ele reencontrará Penélope que o aguarda. Tirésias também comenta sobre a morte de Agamêmnom.

 

Após conversar com Tirésias, Ulisses encontra o espírito de sua mãe no Hades, se lamentando, e depois vê o de Aquiles e o interroga.

 

Aquiles diz que está arrependido por ter alcançado a glória, tendo de viver para sempre no Mundo dos Mortos, preferindo estar vivo como um camponês.

 

Ao sair do Hades, Ulisses está apavorado com o que presenciou, retornando com seus companheiros aos domínios de Circe. Ela os alimenta, dizendo por qual caminho que eles deverão tomar.

 

“Muito em especial, a maneira como terão de enfrentar o terrível perigo das rochas errantes, as Planctaí, essas rochas que não são fixas e que se juntam na hora em que alguém passa entre elas. Para evitá-las, terão de navegar entre Caríbidis e Cila. Caríbidis é um precipício onde eles se arriscam a ser tragados, e Cila é uma rocha que sobre aos céus como um monstro que agarra e devora qualquer pessoa. Circe também os informa de que vão cruzar não só com as rochas gigantescas, tendo que fazer a escolha difícil entre esses dois perigos, Caríbdis e Cila, mas também com as Sereias, na pequena ilha onde vivem. Todo navio que passa diante dessa ilha e que ouve o canto das Sereias acaba se perdendo, porque os marinheiros não resistem ao charme dessa música e então o barco vai bater nos escolhos”. (VERNANT, p. 113 e seg.)

 

Para passar por entre as sereias, Ulisses tapa os ouvidos dos marinheiros com cera, mas ele por ser muito curioso, não faz o mesmo com ele. Porém, se amarra a um mastro.


  Ulisses e as Sereias, Herbert Drapet

 

“As sereias são ao mesmo tempo o apelo do desejo de saber, a atração erótica – são a sedução sem pessoa – e a morte”. (VERNANT, p. 115)

 

“Ulisses escolhe Cila e não Caríbdis, e o resultado é que, na hora em que o barco passa, alguns marinheiros são agarrados por Cila, com suas seis cabeças e suas doze patas de cachorro, e devorados vivos. Só alguns, pouquíssimos, conseguem escapar”. (VERNANT, p. 115)

 

Chegam à Ilha de Trinácia e veem rebanhos imortais que não se reproduzem. Ulisses lembra dos conselhos de Tirésias de não tocar nos rebanhos para sua ida para casa dar certo e ele aconselha aos companheiros.

 

Logo mais na ilha, surgem tempestades no oceano e eles permanecem naquele lugar por dias. As provisões se esgotam e os homens pescam. Mas, eles só conseguem um peixe de vez em quando. Quando Ulisses adormece, os homens famintos cercam os rebanhos e os matam para comer porque estão famintos. Ao acordar, Ulisses repreende os homens que não lhes dão atenção. Enquanto os homens comem, ouve-se o mugir dos animais assados ou cozidos.

 

Ao presenciar aqueles crimes, Hélios (deus do sol) se dirige a Zeus, pedindo por vingança, por eles terem matados seus animais, dizendo que ele deixará o sol de brilhar no mundo dos humanos para haver trevas e brilhará, somente, no Hades para ocorrer o inverso.

 

Ao se afastarem da ilha, Zeus aparece nas nuvens, fazendo o barco ficar envolto na escuridão e atira um raio que espatifa o navio. Os homens estão se afogando e Ulisses está agarrado a um mastro em pleno oceano, vagando pelos mares por nove dias até as ondas levá-lo à Ilha da ninfa Calipso.



“É uma ilha do fim do mundo, não se localiza nem sequer nos confins do espaço marinho, é separada tanto dos deuses como dos homens por imensidões de água. Não fica em lugar algum”. (VERNAT, p. 119)

 

Nessa ilha o tempo não existe. Calipso recolhe Ulisses e eles passam a viver um caso amoroso.

 

“Com Calipso, Ulisses está fora do mundo, fora do tempo. Ela é extremamente amorosa com ele, muito solícita. Mas é também, como indica seu nome Kalypsó – que vem do verbo grego Kalýptein, “esconder” –, aquela que está escondida num espaço fora de tudo e esconde Ulisses de todos os olhares”. (VERNAT, p. 119)

 

Passaram-se dez anos que Ulisses viveu com Calipso, mas o tempo para eles passa despercebido.

 

“[...] a ilhota parece um paraíso em miniatura. Há jardins, bosques, fontes, nascentes, flores, grutas bem mobiliadas onde Calipso fia, tece, faz amor Ulisses”. (VERNANT, p. 120)

 

Calipso oferece a Ulisses a imortalidade e a juventude, contanto que ele permaneça com ela.

 

Atena que é a deusa protetora de Ulisses vai até seu pai Zeus e pede a ele ajudar a Ulisses no seu regresso. Mas, Ulisses diz a Calipso que prefere voltar para casa.

 

Zeus envia Hermes para conversar com Calipso.

 

Nesse ínterim, Ulisses estava fora do Palácio de Calipso, deprimido e chorando por não tirar da mente o seu regresso à Ítaca.

 

Atena se disfarça do velho Mentor e aconselha ao filho de Ulisses, Telêmaco, a esperar pelo pai e procurar notícias sobre ele, sendo que o rapaz nunca vira o pai antes.

 

“Diz-lhe Calipso: “És tão afeiçoado a Penélope, preferes Penélope a mim? Achas que ela é mais bonita?”. “Ora essa, de jeito nenhum”, responde Ulisses, “és uma deusa, és a mais bela, a maior, mais maravilhosa que Penélope, bem sei. Mas Penélope é Penélope, é minha vida, é minha esposa, é minha terra”. “Muito bem”, diz Calipso, “compreendo”. E então ela cumpre as ordens e o ajuda a construir uma jangada. Juntos, abatem as árvores, ligam os troncos para formar uma jangada sólida com um mastro. Assim Ulisses deixa Calipso e tem início uma série de aventuras”. (VERNANT, p. 124)


 

Quando Posêidon vê Ulisses em sua jangada, fica furioso de raiva simula ondas, fazendo a jangada explodir e Ulisses está prestes a morrer, mas a deusa Ino-Leucótea (deusa branca dos naúfragos) o salva ao lhe entregar um véu e um cinto, pedindo a Ulisses depois jogá-los, e Ulisses acaba encontrando mais uma ilha, a dos feácios, um povo composto por marinheiros e mercadores. Nesta ilha ele é acolhido pela princesa Nausícaa que está em idade de casar. Ao ter visto Ulisses arrumado após o banho, Atena havia jogado uma magia da sedução e a garota se sente atraída, pensando na possibilidade de tê-lo como esposo. Mas, Ulisses quer retornar à Ítaca e o rei ao perceber que ele é Ulisses que lutou na Guerra de Troia, resolver ajudá-lo no seu retorno. O rei enche o navio que o leva com presentes.

 

(Continua)

  

REFERÊNCIAS:

 

KURY, Mário da Gama. Dicionário de Mitologia Grega e Romana.

 

 

VERNANT, Jean-Pierre. O universo, os deuses, os homens. São Paulo. Editora Schwarcz, 2008.

 

 MITOLOGIA GREGA PARTE 1: A origem do universo:

https://bit.ly/3xJrAIT

 

MITOLOGIA GREGA PARTE 2: O nascimento de Afrodite e o reinado de Khrónos:

https://bit.ly/3aON1PN

 

MITOLOGIA GREGA PARTE 3: Guerra dos Deuses:

https://bit.ly/3O9rFef

 

MITOLOGIA GREGA PARTE 4: A cidade de Mecona e a história de Prometeu:

https://bit.ly/3QhveRC

 

MITOLOGIA GREGA PARTE 5: Pandora, a primeira mulher do mundo:

https://bit.ly/3Qk0y2f

 

MITOLOGIA GREGA PARTE 6: A Guerra de Troia:

https://bit.ly/3MYMpER

 

MITOLOGIA GREGA PARTE 7: A aventura de Ulisses ou A Odisseia - Parte 1:

https://bit.ly/3Qkf5L0

 

MITOLOGIA GREGA PARTE 9: A aventura de Ulisses ou A Odisseia - Parte 3:

https://bit.ly/3OblFSl

 

MITOLOGIA GREGA PARTE 10: A história de Dionísio:

https://bit.ly/3HkRENF

 

MITOLOGIA GREGA PARTE 11: A história e a maldição de Édipo - Parte 1:

https://bit.ly/3QhwcNK

 

MITOLOGIA GREGA PARTE 12: A história e a maldição de Édipo - Parte 2:

https://bit.ly/3xLkxzE

 

MITOLOGIA GREGA PARTE 13: A história e a maldição de Édipo - Parte 3:

https://bit.ly/3aRRvFe

 

MITOLOGIA GREGA PARTE 14: A história de Perseu:

https://bit.ly/3MLfQK4

 


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Escritor, pesquisador, blogueiro, e Youtuber que visa através deste blog a circulação de textos próprios, bem como o de pessoas amigas, no intuito de incentivar as artes que há dentro de cada um de nós, e também a divulgação de culturas em geral. Contato: contatoallandeoliveira@gmail.com

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