— Olha o poema! Olha o
poema! Poesias subversivas e românticas!
Anunciava um vendedor
ambulante ao passar pelo meio das pessoas, com livretos de poesias nas mãos
para chamar a atenção de compradores.
Todas as sextas feiras
à noite, eu frequentava uma praça situada no centro da cidade, denominada Praça
Cultural da Cidade e sentava em um bar situado enfrente, para tomar algumas
cervejas e observar pessoas desempregadas, que mostravam seus talentos em troca
de míseros trocados, sendo elas: malabaristas, músicos, poetas, cronistas, contistas,
e artesãos; pessoas bastante dispostas no que faziam para ganhar a vida...
O que mais me chamou a
atenção, fora um dos poetas, vendedor dos próprios poemas. Leitor assíduo de
Dostoiévski e uma das principais atrações. Com seu papo de vendedor, uma mente
literária e muito bom no que fazia, ele ia aos poucos ganhando a simpatia de muitas
pessoas, para que estas comprassem seus livretos de poesias.
Além dessas atrações
citadas à cima, havia também, pessoas que vendiam LPs e CDs usados, livros de
escritores famosos, do qual devo muito por ter frequentado a essa praça e hoje
possuir um belo acervo, havendo também, vendedores de acarajés, vendedores de
espetinhos, de uma bebida apelidada “batida”, e tudo o que os senhores leitores
poderem imaginar.
Com relação aos
indivíduos frequentadores da praça, havia de tudo: pessoas da classe média,
proletariados, anarquistas, comunistas, punx, roqueiros, prostitutas, lésbicas,
homossexuais, a malandragem, etc, etc, etc...
O tal poeta andava de
um lado a outro. Possuía um aspecto meio hippie, meio beatnik, desempregado e
totalmente fora dos padrões do ciclo social, por escolha própria, repudiando
tal ciclo quando se encontrava alcoolizado, ou quando passava suas ideias para
o papel. Era conhecido por muitos como Blake, fazendo com que seu verdadeiro
nome se tornasse oculto.
A sua forma em buscar
inspiração para escrever, atribuía-se à procura de cigarros proibidos,
comprimidos (onde era dependente), e o álcool.
Blake por não ter
conseguido encontrar editora alguma a que reconhecesse seus trabalhos, decidiu
vender e divulgá-los independentemente. No bom e velho “faça-você-mesmo”.
Além de escrever, Blake
também compunha músicas para a banda de rock and roll, El Diablo, da qual fazia parte, assumindo o vocal, onde o primeiro
show que seria realizado não o fora, devido ao fato dele ter mandado todo mundo
para casa do “caralho”, inclusive os componentes da banda.
***
Numa sexta-feira dessas,
o vendedor ambulante de poemas, acabara de vender quase todos seus trabalhos
com exceção de um. A sorte acabara de aparecer quando uma mulher passou por
ele, e com seu papo de vendedor, ele abordara a mulher.
— Amiga! – FALA O VENDEDOR. Gostaria de comprar
um poema, e ajudar a esse camarada? Custa apenas um real.
A mulher pegou o papel
e após lê-lo, olhou para a autoria escrita embaixo, perguntando logo em
seguida:
— Quem é esse Blake?
O poeta ambulante, em
grande contentamento, lhe responde:
— Sou eu, amiga.
— Você! Não brinca! – MEDINDO-O DE CIMA A BAIXO. Acha mesmo que vou
acreditar que você tenha escrito uma coisa tão boa quanto esta? Não diga! – DEU UMA BREVE PAUSA, TORNANDO A
PERGUNTAR DEPOIS:
– Como é seu nome realmente?
— José das Nuvens.
— Ah, agora sim. Logo vi. Você tem mesmo é cara de José. – A
MULHER PAGOU O VALOR ESTABELECIDO PELO VENDEDOR, E FOI-SE EMBORA, RELENDO O
PAPEL MAIS VEZ.
O poeta feliz por ter
vendido aquele último livreto que faltava para ganhar a noite, retirou-se da
Praça Cultural da Cidade, atravessou a rua, e depois entrou naquele barzinho enfrente
ao que costumo beber. Aproximou-se do balcão, pediu uma dose de uma cachaça
qualquer, bebendo num gole só.
É, realmente ele tinha
mesmo ganhado aquela noite.
Aracaju, 2006.
Por: Allan Cara de Pão.