MITOLOGIA GREGA XIII: A história e a maldição de Édipo - Parte III (Final)


Antígona, por Frederic Leighton.

  

Por: Allan de Oliveira.

  

Após Édipo ter falecido e por conta das divergências entre seus filhos por causa do trono, Polinices e Etéocles fazem um acordo para que cada um deles permaneça no trono num período de um ano com revezamento entre eles após o período.

 

Etéocles é o primeiro a ficar no trono e após o término do período ele não quis ceder o lugar ao irmão por ter se casado com a filha do rei Adrasto, rei de Argos, contrariando Tebas por ter se aliado a esta cidade rival. Adrasto apoia Polinices com alguns dos seus soldados e surge uma guerra entre os dois irmãos em que eles se matam.

 

Creonte assume o trono, proibindo o sepultamento de Polinices sob pena de morte a quem o fizer por considerar esse príncipe como um traidor de Tebas, por ele ter se aliado a Argos, pretendendo deixar seu corpo ser devorado por cães e por pássaros carnívoros. Enquanto, o sepultamento de Etéocles é feito porque ele “lutou” por Tebas, revelando o seu patriotismo.

 

Antígona e Ismene conversam sobre a situação em que encontra, e Antígona pedira a Ismene para ajudá-la a enterrar Polinices, mas esta outra teme as ordens do novo rei. Antígona então lhe diz:

 

“- [...] repousarei ao lado dele, amada por quem tanto amei e santo é o meu delito, pois terei de amar aos mortos muito, muito tempo mais que aos vivos. Eu jazerei eternamente sob a terra e tu, se queres, foges à lei mais cara aos deuses”. (SÓFOCLES, p. 204)

 

Creonte conversa com os anciãos e com um guarda que lhe diz que o cadáver de Plinices desaparecera. Esta notícia contraria Creonte que se enraivece e se retira. O guarda deseja saber quem foi o autor da proeza e vai a procura. Minutos depois, ele retorna, conduzindo Antígona, levando à presença do corifeu tebano, dizendo-lhe que a vira procurando fazer cerimônia para o cadáver de Polinices. Depois Creonte retorna, e por achar estranho a captura de Antígona, pergunta o que houve e o guarda lhe revela o ocorrido. Antígona, no entanto, assume o feito.

 

“CREONTE: - E te atreveste a desobedecer às leis?

ANTÍGONA: - Mas Zeus não foi o arauto delas para mim, nem essas leis são as ditadas entre os homens pela Justiça, companheira de morada dos deuses infernais; e não me pareceu que tuas determinações tivessem força para impor aos mortais até a obrigação de transgredir normas divinas, não escritas, inevitáveis; não é de hoje, não é de ontem, é desde os tempos mais remotos que elas vigem, sem que ninguém possa dizer quando surgiram”. (SÓFOCLES, p. 219)

 


Os guardas saem e voltam com Ismene porque ela deseja morrer junto à irmã, mas Antígona não acha justo. Creonte sustenta pede aos guardas para levarem as duas moças.

 

Instantes depois, Hêmon, filho mais novo de Creonte e noivo de Antígona, aparece em cena e seu pai lhe pergunta se há algum problema quanto à sua decisão em relação à sentença de Antígona. Hêmon lhe responde:

 

“- Sou teu, meu pai. Com teus conselhos úteis traças minha conduta certa; casamento algum me importa mais que tua reta orientação”. (SÓFOCLES, p. 229)

 

Creonte lhe diz:

 

“- Existirá, então, ferida mais pungente que uma esposa má? Deves repudiá-la como inimiga; deixa a moça desposar alguém lá no outro mundo”. (SÓFOCLES, p. 229)

 

Porém, Creonte nota que seu filho não está satisfeito com suas ordens e ele se enfurece, dizendo:

 

“-Devemos apoiar, portanto, a boa ordem, não permitindo que nos vença uma mulher. Se fosse inevitável, mal menor seria cair vencido por um homem, escapando à triste fama de mais fraco que as mulheres!”. (SÓFOCLES, p. 230)

 

Após alguma discussão, Creonte manda os guardas buscarem Antígona e Hêmon sai de cena. O corifeu pergunta a Creonte de que forma Antígona morrerá e ele lhe diz que dará ordens para enterrá-la viva numa caverna. Os guardas tornam a levar, novamente, Antígona.

 

Tirésias aparece, sendo guiado por um garoto, dizendo a Creonte que ouvira o agouro de aves e ele procurou fazer um sacrifício. Porém, a carne do animal não queimava e a gordura apagava o fogo. Daí ele descobrira através do garoto que os agouros das aves quando são executados fazem com que os holocautos não se manifestem. Tirésias ao contar estes fatos diz a Creonte:

 

“- [...] E é por tua causa, por tuas decisões, que está enferma Tebas. Nossos altares todos e o fogo sagrado estão poluídos por carniça do cadáver do desditoso filho de Édipo, espalhada pelas aves e pelos cães; por isso os deuses já não escutam nossas preces nem aceitam os nossos sacrifícios, nem sequer as chamas das coxas; nem os pássaros dão sinais claros com seus gritos estrídulos, pois já provaram gordura e sangue de homem podre. Pensa, então, em tudo isso, filho. Os homens todos erram mas quem comete um erro não é insensato, nem sofre pelo mal que fez, se o remedia em vez de preferir mostrar-se inabalável; de fato, a intransigência leva à estupidez. Cede ao defunto, então! Não firas um cadáver! Matar de novo um morto é prova de coragem? Pensei só no teu bem e é por teu bem que falo. Convém ouvir a fala do bom conselheiro se seus conselhos são para nosso proveito”. (SÓFOCLES, p. 244)

 

Mas, Creonte com sua dureza da alma não quer voltar atrás em sua decisão. E Tirésias volta a adverti-lo:

 

“- Então fica sabendo, e bem, que não verás o rápido carro do sol dar muitas voltas antes de ofereceres um parente morto como resgate certo de mais gente morta, pois tu lançaste às profundezas um ser vivo e ignobilmente o sepultaste, enquanto aqui reténs um morto sem exéquias, insepulto, negado aos deuses ínferos. Não tens, nem tu, nem mesmo os deuses das alturas, tal direito; isso é violência tua ousada contra os céus! Estão por isso à tua espreita as vingativas, terríveis Fúrias dos infernos e dos deuses, para que sejas vítima dos mesmos males”. (SÓFOCLES, p. 247)

 

Depois o velho adivinho pede ao garoto para levá-lo à casa em que eles moram. O corifeu adverte ao rei para soltar Antígona da prisão subterrânea e sepultar o corpo de Polinices por temer as advertências de Tirésias. Neste momento, chega um mensageiro, dizendo ao cofireu que Hêmon se matara causa da sentença de Antígona dada por seu pai.

 

Chega a esposa de Creonte e mãe de Hêmon, Eurídice. Ele pergunta ao mensageiro o que houve e esse outro lhe respondera que estava seguindo com Creonte ao local onde se encontrava o corpo de Polinices, eles fizeram orações a Hades e à deusa das encruzilhadas, Hécate, para procurarem aliviar a raiva dos deuses. Depois lavaram o cadáver e o cremaram, enterrando as cinzas. Feito isso, se dirigiram ao local em que estava Antígona. No entanto, um dos guardas contou a Creonte que ouvira gemidos provenientes da alcova em que estava Antígona e Creonte e Hêmon chegaram ao local, se deparando com o corpo da mesma que fora estrangulado com o laço do próprio véu. Hêmon com raiva do pai tentou matá-lo. Mas, ao errar o golpe, Hêmon acabou por golpear ele mesmo, abrando o cadáver da sua noiva e morrer junto a ela.

 

Ao ouvir as palavras do mensageiro, Eurídice se retirara silenciosamente, retornando ao palácio. Depois da saída do mensageiro, Creonte retorna trazendo consigo o corpo do filho e se lamentando.

 

Outro mensageiro sai correndo do palácio, dizendo a Creonte que Eurídice acabara de se matar, enfiando um punhal no fígado após se lamentar a morte de Megareu, filho que morrera defendendo Tebas, e Hêmon, amaldiçoando também o próprio esposo. Ao ter recebido a notícia, Creonte passa a sofrer mais ainda, vendo depois os criados do palácio levando o corpo da sua esposa. Desesperado, Creonte pede ao corifeu e ao mensageiro para levá-lo para bem longe da cidade para se matar. Mas, eles o levam ao palácio e Creontes ficará a se lamentar todos esses acontecimentos providos de sua parte.

 

(continua)

 

 

REFERÊNCIAS:

 

KURY, Mário da Gama. Dicionário de Mitologia Grega e Romana.

 

RECANTO DAS LETRAS – Édipo em Colono e Antígona. Disponível em: <http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/1076161>. Acesso em: 23 de ago. de 2013.

 

SÓFOCLES. Tragédia Grega Volume I: A Trilogia Tebana. Rio de Janeiro. Jorge Zahar Editor, 2008. 13ª Ed.

 

VERNANT, Jean-Pierre. O universo, os deuses, os homens. São Paulo. Editora Schwarcz, 2008.


  
MITOLOGIA GREGA PARTE 1: A origem do universo:

https://bit.ly/3xJrAIT

 

MITOLOGIA GREGA PARTE 2: O nascimento de Afrodite e o reinado de Khrónos:

https://bit.ly/3aON1PN

 

MITOLOGIA GREGA PARTE 3: Guerra dos Deuses:

https://bit.ly/3O9rFef

 

MITOLOGIA GREGA PARTE 4: A cidade de Mecona e a história de Prometeu:

https://bit.ly/3QhveRC

 

MITOLOGIA GREGA PARTE 5: Pandora, a primeira mulher do mundo:

https://bit.ly/3Qk0y2f

 

MITOLOGIA GREGA PARTE 6: A Guerra de Troia:

https://bit.ly/3MYMpER

 

MITOLOGIA GREGA PARTE 7: A aventura de Ulisses ou A Odisseia - Parte 1:

https://bit.ly/3Qkf5L0

 

MITOLOGIA GREGA PARTE 8: A aventura de Ulisses ou A Odisseia - Parte 2:

https://bit.ly/3HkcEo0

 

MITOLOGIA GREGA PARTE 9: A aventura de Ulisses ou A Odisseia - Parte 3:

https://bit.ly/3OblFSl

 

MITOLOGIA GREGA PARTE 10: A história de Dionísio:

https://bit.ly/3HkRENF

 

MITOLOGIA GREGA PARTE 11: A história e a maldição de Édipo - Parte 1:

https://bit.ly/3QhwcNK

 

MITOLOGIA GREGA PARTE 12: A história e a maldição de Édipo - Parte 2:

https://bit.ly/3xLkxzE

 

MITOLOGIA GREGA PARTE 14: A história de Perseu:

https://bit.ly/3MLfQK4

 

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Escritor, pesquisador, blogueiro, e Youtuber que visa através deste blog a circulação de textos próprios, bem como o de pessoas amigas, no intuito de incentivar as artes que há dentro de cada um de nós, e também a divulgação de culturas em geral. Contato: contatoallandeoliveira@gmail.com

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