Que essa vida se faça verbo
se faça carne, se faça além do verso
e com verso
e que no seu próprio reverso
no corte lento do dia
na sede
do amor,
na fome,
na dor,
o tempo seja beija-flor
o riso seja o que for não vá embora.
Ah, sobre nós o tempo urge
é essa vida que se derrama assim por
dentro
por fora nos arrebenta,
lenta,
incondicionalmente mitigada,
numa insensatez de mil anos
pelos rebentos do sertão que aflora
transborda
em ramas,
em lama,
em auroras
em grotas que beijam a terra
acariciam as pedras sob o calor do
meio-dia.
Nessa volúpia toda eu bem queria ser
flor
deixar-me ali ficar por entre
caminhos
e silêncios
e rumores.
Mas só me restam essas palavras
dilaceradas
Essa poeira de estrelas
que me entorpece.
Esse caminho de passo insano
as teias,
as texturas,
um trêmulo tilintar de asas
um murmúrio de águas
nas fendas do meu ser.
Numa floresta cravada bem no meio do
meu peito
brotando de borboletas noturnas e
pássaros fugidios.
Ah, como dói esse não pertencimento
e ao mesmo tempo pertencer
ser extensão de grota,
uma ideia de pedra,
um latejo de brotos
aguardando o amanhecer
e ainda assim,
não ser o que sou,
mesmo sendo apenas um sopro,
uma lembrança.
Abril de 2014.
Por: Francisca Elizabeth Alexandre Alexandre.