MITOLOGIA GREGA XI: A história e a maldição de Édipo (Parte I)


Por: Allan de Oliveira.

 

Após os incidentes que ocorreram em Tebas, o trono passou por transtornos. E pela lógica quem deveria assumi-lo deveria ser Polidoro, o filho de Cadmo, que se casara com a filha de Ctônio. Mas, ele ocupa o trono por pouco tempo, devendo ceder o lugar ao filho que teve com Nicteida, Lábdaco. Porém, Lábdaco ainda está muito jovem para tomar posse do trono.

 

Esses são tempos de violência, desordem e usurpação, ocorrendo uma rivalidade com os semeados e o poder legítimo.

 

Lábdaco morre quando seu filho está com um ano. Assim, Nicteu e Lico ocupam o lugar até serem mortos por Anfíon e Zieto. Laio é exilado e quando adulto encontra refúgio em Corinto com o rei Pélope, avô de Agamêmnon.

 

Laio se apaixona pelo filho de Pélope, Crisipo e o rapta. Mas, este lhe nega a relação erótica e Laio abusa sexualmente do rapaz. Fato este que faz o rapaz se suicidar por se sentir escandalizado.

 

O rei Pélope lança uma maldição sobre Laio para sua estirpe desaparecer da face da terra.

 

Laio retorna à Tebas e se casa com Jocasta. Depois do casamento, Laio vai consultar o Oráculo de Delfos e este lhe responde que se ele tiver um filho o mesmo o matará e se deitará com sua esposa. Este fato ocorrerá como uma maldição do oráculo à Laio por conta de seus amores homossexuais.

 

Apavorado, Laio sai do oráculo e retorna à Tebas. Mas, um dia Jocasta acaba engravidando e o bebê é destinado à morte a mando do rei que manda Jocasta entregar o recém-nascido a um pastor de ovelhas para ele o deixar na montanha para ficar exposto às aves e aos animais selvagens.

 

O pastor perfura o calcanhar da criança, amarra seus pés e a leva. Mas, no caminho ele sente pena do bebê e o entrega a um pastor de Corinto. Esse outro pastor dá o bebê ao rei Pólibo e à rainha Peribéia porque eles querem ter filhos e não conseguem. Nisso, os reis ficam muito felizes com o bebê e ele passa a ser chamado Édipo.

 

Édipo fora achado no Vale escuro do Citéron. Seu nome significa “pés inchados”.

 

Com o passar dos anos a cidade de Corinto comenta o fato do garoto Édipo não ser 100% daquela cidade e nem tão pouco ser filho do rei Pólibo, nem da rainha Peribéia.

 

Certo dia quando Édipo já havia alcançado a maior idade, um bêbado o chama de filho adotivo, e preocupado, Édipo pergunta ao pai sobre isso e este lhe omite a verdade. Porém, Édipo continua preocupado com aquele comentário e ele vai se consultar no Oráculo de Delfos que lhe responde:

 

-Matarás teu pai e se deitarás com tua mãe.

 

Horrorizado, Édipo resolve se exilar de Corinto e segue para Tebas. Ao se dirigir a um cruzamento a carroça de Édipo se depara com outra que é do rei Laio e seu séquito. O cocheiro de Laio bate no cavalo de Édipo e nele também, mandando-o abrir passagem para passarem. Mas, Édipo por se sentir humilhado, acaba matando em legítima defesa o cocheiro, Laio e seu séquito, e, somente, um homem consegue fugir.

 

Na entrada de Tebas se encontra uma esfinge que há anos exige dos jovens desvendar seus enigmas. Como nenhum deles consegue desvendar os enigmas, ela mata-os.

 

Quando Creonte, irmão de Jocasta, e que assumiu temporariamente o trono de Tebas, vê Édipo, sugere a ele se conseguir vencer a Esfinge para salvar a cidade, como recompensa ele se tornará rei e se casará com a rainha. Édipo aceita o desafio e ao se aproximar da Esfinge, ela pergunta:

 

“- Que animal anda com quatro pernas de manhã, duas ao meio-dia e três à tarde?”. (SÓFOCLES, p. 98)

 

Édipo responde:

 

- É o homem. Quando criança, ele engatinha. Na idade madura, caminha sobre as duas pernas. E quando envelhece, se apoia numa bengala para ajudá-lo a caminhar.



Édipo e a Esfinge (pintura de Gustave Moreau)

  

A Esfinge se sentindo derrotada se joga do auto da montanha e morre. E assim, a cidade de Tebas se liberta do domínio do monstro e festeja o herói que se tornou rei e se casou com a rainha Jocasta.

 

Um tempo depois, Jocasta engravida e dá a luz a Polinices, Etéocles, Ismena e Antígona. Depois a peste retorna à cidade. Por conta disso, Creonte manda um representante ao Oráculo de Delfos. Nesse ínterim, as pessoas vão ao palácio real com ramos de oliveira para orar e pedirem ajuda ao rei porque a cidade está sofrendo com a peste enviada pelos deuses e isto se deu porque os tebanos estavam desobedecendo aos oráculos.

 

Quando o homem que fora ao oráculo retorna, este diz que fora revelado que era preciso expulsar de Tebas o assassino de Laio. Ao ouvir, Édipo diz que irá tomar suas providências.

 

Creonte manda chamar Tirésias, um sábio cego, sacerdote de Apolo, para dá alguma informação na presença do rei. Mas, ele diz a Édipo o seguinte:

 

“Agora ouve: o homem que vens procurando entre ameaças e discursos incessantes sobre o crime contra o rei Laio, esse homem, Édipo, está aqui em Tebas e se faz passar por estrangeiro, mas todos verão bem cedo que ele nasceu aqui e essa revelação não há de lhe proporcionar prazer algum; ele, que agora vê demais, ficará cego; ele, que agora é rico, pedirá esmolas e arrastará seus passos em terras de exílio, tateando o chão à sua frente com um bordão. Dentro de pouco tempo saberão que ele ao mesmo tempo é irmão e pai dos muitos filhos com quem vive, filho e consorte da mulher de quem nasceu; e que ele fecundou a esposa do próprio pai depois de havê-lo assassinado!”. (KURY, 2008, p. 40)

 

Quando Édipo interroga Tirésias, a princípio, ele lhe nega dar qualquer informação. Édipo, então, passa a desconfiar dele, em Creonte e no homem que fora ao Oráculo de Delfos, pensando que eles estão conspirando contra seu trono. Pensa em expulsar Creonte de Tebas, mas Jocasta intervém.

 

Quando Édipo manda chamar o homem que fugira no dia do assassinato de Laio para perguntar como havia sido o ocorrido, ele lhe diz que Laio e seu séquito foram atacados por bandidos no cruzamento.

 

Édipo se lembra do dia em que matara um homem e seu cocheiro no cruzamento, mas ainda não sabe de que se tratava de Laio, e de acordo com o informante, o séquito fora atacado por bandidos.

 

Chega depois um homem de Corinto para anunciar a Édipo a morte de seus pais.

 

“Dor de Édipo, que está órfão. Dor mesclada de certa alegria, porque, se Pólibo morreu, Édipo não poderá matar o pai, que agora é um defunto. Tampouco poderá dormir com a mãe, pois ela já morreu. Esse homem de pensamento muito frio, muito claro, está quase contente ao saber que o oráculo não disse a verdade. Diante do portador das más notícias, que talvez espera que Édipo retorne a Corinto para assumir a realeza, conforme o previsto, Édipo se justifica: teve de deixar Corinto porque lhe haviam feito a previsão de que mataria o pai e dormiria com a mãe. O mensageiro retruca: “Estavas errado em fazer isso: Pólibo e Peribéia não são teu pai e tua mãe”. Estarrecido, Édipo fica pensando no que tudo isso significa”. (VERNANT, p. 173)

 

O mensageiro diz à Jocasta que Édipo é filho adotivo do rei e da rainha de Corinto e ela passou a ter uma sinistra intuição. Édipo pergunta ao mensageiro como ele sabe disso e o outro lhe responde que o pastor do palácio de Tebas entregou o bebê que Jocasta mandou dá um sumiço a ele e depois o bebê fora entregue aos seus patrões.

 

Ao ouvir toda aquela história, Édipo descobre a verdade e sai correndo como louco atrás de Jocasta. Quando ele a encontra, a vê, morta. Ela se suicidara com seu cinto. Desesperado ao ver a Jocasta enforcada, ele retirou um dos broches da roupa daquela que ali estava e furou os próprios olhos.

 

 

(Continua)

 

 

REFERÊNCIAS:

 

KURY, Mário da Gama. Dicionário de Mitologia Grega e Romana.

 

RECANTO DAS LETRAS – Édipo em Colono e Antígona. Disponível em: <http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/1076161>. Acesso em: 23 de ago. de 2013.

 

SÓFOCLES. Tragédia Grega Volume I: A Trilogia Tebana. Rio de Janeiro. Jorge Zahar Editor, 2008. 13ª Ed.

 

VERNANT, Jean-Pierre. O universo, os deuses, os homens. São Paulo. Editora Schwarcz, 2008.


 MITOLOGIA GREGA PARTE 1: A origem do universo:

https://bit.ly/3xJrAIT

 

MITOLOGIA GREGA PARTE 2: O nascimento de Afrodite e o reinado de Khrónos:

https://bit.ly/3aON1PN

 

MITOLOGIA GREGA PARTE 3: Guerra dos Deuses:

https://bit.ly/3O9rFef

 

MITOLOGIA GREGA PARTE 4: A cidade de Mecona e a história de Prometeu:

https://bit.ly/3QhveRC

 

MITOLOGIA GREGA PARTE 5: Pandora, a primeira mulher do mundo:

https://bit.ly/3Qk0y2f

 

MITOLOGIA GREGA PARTE 6: A Guerra de Troia:

https://bit.ly/3MYMpER

 

MITOLOGIA GREGA PARTE 7: A aventura de Ulisses ou A Odisseia - Parte 1:

https://bit.ly/3Qkf5L0

 

MITOLOGIA GREGA PARTE 8: A aventura de Ulisses ou A Odisseia - Parte 2:

https://bit.ly/3HkcEo0

 

MITOLOGIA GREGA PARTE 9: A aventura de Ulisses ou A Odisseia - Parte 3:

https://bit.ly/3OblFSl

 

MITOLOGIA GREGA PARTE 10: A história de Dionísio:

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MITOLOGIA GREGA PARTE 12: A história e a maldição de Édipo - Parte 2:

https://bit.ly/3xLkxzE

 

MITOLOGIA GREGA PARTE 13: A história e a maldição de Édipo - Parte 3:

https://bit.ly/3aRRvFe

 

MITOLOGIA GREGA PARTE 14: A história de Perseu:

https://bit.ly/3MLfQK4


Literatura TV

Escritor, pesquisador, blogueiro, e Youtuber que visa através deste blog a circulação de textos próprios, bem como o de pessoas amigas, no intuito de incentivar as artes que há dentro de cada um de nós, e também a divulgação de culturas em geral. Contato: contatoallandeoliveira@gmail.com

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